LÍNGUA PORTUGUESA 1ª SEMANA - LEONARDO TRAJANO

 

LÍNGUA PORTUGUESA

1ª semana

 Prof: Leonardo Trajano

 A Linguagem do Humor I

 Humor

 Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

 O humor é um estado de ânimo cuja intensidade representa o grau de disposição  e  de bem-estar psicológico e emocional de um indivíduo.

 A palavra humor surgiu na medicina humoral dos antigos Gregos. Naqueles tempos, o termo humor representava qualquer um dos quatro fluidos corporais (ou humores) que se considerava serem responsáveis por regular a saúde física e emocional humana.

 O humor é uma das chaves para a compreensão de culturas, religiões e costumes das sociedades num sentido amplo, sendo elemento vital da condição humana. O homem é o único animal que ri, e através dos tempos a maneira humana de sorrir modifica-se acompanhando os costumes e correntes de pensamento.

 Em cada época da história humana a forma de pensar cria e derruba paradigmas, e o humor acompanha essa tendência sócio-cultural. Expressões culturais do humor podem representar retratos fiéis de uma época, como é o caso, por exemplo, das comédias gregas de Plauto e das comédias de costumes do brasileiro Martins Pena.

 

Um estudo do humor

 

Apesar de o humor ser largamente estudado, teorizado e discutido por filósofos e outros, permanece extraordinariamente difícil de definir, quer na sua vertente psicológica quer na sua expressão, como forma de arte e de pensamento. Na verdade, o que é que o distingue de tantos outros aspectos do cômico, como a ironia ou a sátira? A ironia é uma simulação sutil de dizer uma coisa por outra. A ironia não pretende ser aceita, mas compreendida e interpretada. Para Sócrates, a ironia é uma espécie de "docta ignorantia", ou seja, "ignorância fingida" que questiona sabendo a resposta e orientando-a para o que quer que esta seja. Em Aristóteles e S. Tomás de Aquino, a ironia não passa de uma forma de obtenção de benevolência alheia pelo fingimento de falta de méritos próprios. A partir de Kant, assentando na ideia idealista, a ironia passa a ser considerada alguma coisa aparente, que como tal se impõe ao homem vulgar ou distraído. Corrosiva e implacável, a sátira é utilizada por aqueles que demonstram a sua


capacidade de indignação, de forma divertida, para fulminar abusos, castigar, rir, os costumes, denunciar determinados defeitos, melhorar situações aberrantes, vingar injustiças… Umas vezes é brutal, outras mais sutil.

 

Já o humor é determinado essencialmente pela personalidade de quem ri. Por isso, pode-se pensar que o humor não ultrapassa o campo do jogo ou os limites imediatos da sanção moral ou social, mas este pode subir mais alto e atingir os domínios da compreensão filosófica, logo que o emissor penetre em regiões mais profundas, no que há de íntimo na natureza humana, no mistério do psíquico, na complexidade da consciência, no significado espiritual do mundo que o rodeia. Pode-se, assim, concluir que o humor é a mais subjectiva categoria do cómico e a mais individual, pela coragem e elevação que pressupõe. Logo, o que o distingue das restantes formas do cómico é a sua independência em relação à dialéctica e a ausência de qualquer função social. Trata-se, portanto, de uma categoria intrinsecamente enraizada na personalidade, fazendo parte dela e definindo-a até. É por isso que se diz “Há tantos humores como humoristas.”.

 

“Ludus est necessarius ad conversationem humanae vitae.” – “O humor é necessário para a vida humana.” (S. Tomás de Aquino) Através desta afirmação, percebe-se que, da mesma maneira que o sono está para o repouso corporal, também o humor está para o repouso da alma. Esta analogia entre o sono e o humor é bastante explícita, no que diz respeito à importância do humor na vida do Homem. É por isto que o humor é considerado por S. Tomás de Aquino um "bem útil", e prossegue, considerando ainda que o humor pode ser um vício por excesso, ou seja, por falta de controlo e medianiedade no uso deste. Aqueles que exageram no brincar tornam-se inoportunos, por querer fazer rir constantemente, ao invés tentar não dizer algo imoral e mesmo agressivo para com aqueles a quem a “brincadeira” é dirigida. O humor pode também ser um vício por ausência deste. Aqueles que carecem de humor, irritam-se com os que o usam e tornam-se “frios” e distantes, não deixando a sua alma repousar pelo uso do humor. Como no meio é que está a virtude, aqueles que usam convenientemente o humor, têm a capacidade de converter as coisas que se dizem ou fazem em riso.

 


Diálogo difícil

 

Um homem do interior esbarra no jargão de uma secretária Ivan Angelo

 

Se ultrapassar a barreira representada por uma secretária, quando se quer falar com  um  executivo  ao  telefone,    é  um  pouco  complicado  para  urbanos acostumados, que dirá quando vem alguém de longe, aonde não chegaram ainda certos truques do linguajar sempre polido daquelas que recebem dos patrões a ingrata

missão de afastar em vez de aproximar.


-  Financeira Saraiva, boa-tarde - diz a secretária.

 

-  Boa-tarde, moça. O doutor Saraiva está?

-  Quem gostaria?

 

Para ouvidos traquejados isso significa: pode estar ou pode não estar, depende de quem está falando. O verbo gostar no condicional joga o acesso ao doutor no terreno das possibilidades. Mas as palavras têm um sentido mais amplo do que julga quem faz uso delas no sentido particular.

 

- Gostaria não é bem o causo. Eu vim mais por precisão do que por gosto.

 

A resposta não servia a ela, que estava interessada no "quem" da pergunta. Já o interlocutor prestara maior atenção no verbo porque, para ele, essa era a palavra que fazia mais sentido na circunstância. A secretária voltou à pergunta dando ênfase na busca da informação que desejava:

 

-  Mas quem gostaria?

 

-  Gostaria de quê?

 

-  O que estou perguntando é qual o seu nome. Quer dizer: quem gostaria de falar com ele.

 

Aí, para o homem do interior, já era quase uma questão. E ele tornou, muito polido, mas marcando opinião:

 

-  Uai, mas, se eu perguntei primeiro se o doutor Saraiva está, a senhora tinha de me responder primeiro, antes de rebater com outra pergunta, não é não? Eu penso assim.

 

-  Como é que vou encaminhar o senhor sem saber o seu nome?

 

-  Posso até dar o nome, mas eu não disse que queria falar com ele. Só perguntei se ele estava...

 

A secretária, com a objetividade da profissão, tentou contornar:

-  O senhor quer falar com ele?

-  Gostaria - ironizou o homem.

-  Bom, então, por favor, o senhor pode me dizer o seu nome?

-  Posso. É João Honorato.

Aí veio outra pergunta fatal das secretárias:

- De onde?

 

Para quem conhece os códigos, a pergunta significa: de qual empresa é o senhor, qual é o seu negócio? Para quem não conhece:

 

-  De onde? Ah, sou de um lugar muito pequeninozinho perto de Barbacena, a senhora nunca deve ter ouvido falar: Desterro do Melo. Ouviu falar?

 

-  Não, não ouvi - e lá veio outra pergunta do repertório: - É particular, senhor?

-  Aí a senhora me pegou. O Desterro? Particular?

-  O assunto, senhor, é particular?

-  Ah, bom. Por enquanto, é. Daqui a pouco tá na boca do povo.

-  Pode adiantá-lo, senhor, para eu estar passando para o doutor Saraiva?

 

-  Não, eu mesmo passo.

 

A secretária vencida e grilada contatou o patrão, que atendeu na maior presteza ao ouvir o nome de João Honorato. Foi uma conversa longa. Pela porta entreaberta ela ouviu duas risadas, apelos, promessas, regateios, garantias, agradecimentos. Depois o doutor Saraiva veio até ela:

 

-   Dona Regina, o senhor João Honorato está vindo aí. Disse que teve dificuldade de entender a senhora. Pelo amor de Deus, fale simples com ele, como se ele fosse a sua mãezinha, o seu avozinho. De hoje em diante, por favor, não mais "quem gostaria?", "de onde?", "estar passando", "qual é o assunto". Ele acha que quem telefona sabe o que quer e com quem quer.

 

-  Mas quem é esse João Honorato?

 

-  O rei da soja. Agora é nosso patrão: vendi minha parte para ele nesse fim de semana.

 

1.     Leia alguns dos significados da palavra jargão:

 

jargão: 1 linguagem viciada, disparatada, que revela conhecimento imperfeito de uma língua (...) 3 código linguístico próprio d um grupo sociocultural ou profissional com vocabulário especial, difícil de compreender ou incompreensível para os não indicados; gíria 4 linguajar destinado a não ser entendido senão por um grupo (...) 9 linguagem deliberadamente artificializada empregada pelos membros de um grupo desejosos de não serem entendidos pelos não iniciados ou, simplesmente, de diferenciarem-se das demais pessoas.”

 

Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.

 

Responda:

 

No subtítulo “Um homem do interior esbarra no jargão de uma secretária”, a palavra jargão está empregada em qual desses significados?

 

2.     Releia o primeiro parágrafo e responda:

 

a)   Você leu quatro significados para a palavra jargão, transcritos de um dicionário. Copie em seu caderno o significado que possa corresponder à seguinte frase do narrador: “(...) certos truques do linguajar sempre polido daquelas que recebem dos patrões a ingrata missão de afastar em vez de aproximar.”

 

b)   “Quem gostaria?” é a frase que desencadeia a confusão entre João Honorato e a secretária. No texto, essa expressão pode ser considerada um jargão? Explique.

 

3.     Pode-se afirmar que a personagem João Honorato utiliza jargões?

 

 

4.     Geralmente, as crônicas expressam uma crítica a uma situação do cotidiano. Qual é a crítica que se pode inferir dessa cônica?

 

 

5.     Para exemplificar como a secretária deveria se expressar, o patrão usa o seguinte exemplo:

 

“Pelo amor de Deus, fale simples com ele, como se fosse a sua mãezinha, o seu

avozinho.” Por que?

 

 

6.     O narrador, por meio de comentários, expressa sua ironia contra os jargões da secretária. Transcreva um dos comentários que revela essa ironia.

 

 

7.     Se competência comunicativa é, além de conhecer a língua, desenvolver a capacidade de fazer adequações às diversas situações em que tiver de utilizá-la, qual das duas personagens – João Honorato ou a secretária – pode ser considerada como mais competente no aspecto da adequação? Justifique sua escolha.

 

8.     Há expressões que nascem de usos da língua no cotidiano, seja no meio televisivo, pra caracterizar personagens e produtos, seja em determinados grupos sociais. São repetidas na fala e na escrita e, na maioria das vezes, o usuário nem sequer atenta para o sentido. Essas expressões são chamadas de bordões: exemplos: “tipo assim”, “a nível de”, “comigo é no popular”, “fala sério”.

 

Na sua opinião, essas expressões podem prejudicar a comunicação? Explique.


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